quinta-feira, 21 de março de 2024

 ALFREDO MENEZES, O CARA!

 


Assenção Pessoa

O livro Alfredo Menezes, o cara!, nasceu da necessidade de resguardar a trajetória do jornalista itapecuruense Alfredo João de Menezes Filho, que hoje estaria com 76 anos de vida. O menino apaixonado pelo esporte, tendo o Vasco da Gama como seu time do coração, revelou ao Maranhão os atletas amadores do seu município logo no início de sua carreira como repórter amador, alcançando uma projeção ascendente e sendo reconhecido na esfera desportiva do nosso Estado. Escrito pela itapecuruense Assenção Pessoa, professora, escritora, membro da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (AICLA), o livro Alfredo Menezes, o cara! resgata essa trajetória de Alfredo Menezes, o jornalista nacional e internacional, e trabalhou por mais de 35 anos no meio, desses, 30 anos foi no Jornal O Estado do Maranhão, tendo o auge se sua carreira quando foi agraciado com o convite para cobrir as paraolimpíadas de Sidnei (Austrália, 2000). Cidadão de muitas homenagens e honrarias, como a Copa Primavera de Voleibol, troféu Alfredo Menezes, promovida pela Associação Atlética do Banco do Brasil, o livro conta um pouco de sua biografia pessoal e profissional, tendo como pano de fundo a própria história do esporte do Maranhão e do Brasil. Amigos jornalistas como Ana Coaracy, Edivan Fonseca, Eduardo Lindoso, Fernando Sarney, Cloves Cabalau; familiares, os afilhados (filhos do coração), amigos atletas como Iziane Castro (Basquete), Rafael Leitão (Xadrez), Pedro Almeida (Karatê), dentre muitos outros, constam nas páginas desse livro para ressaltar a importância de Alfredo Menezes para o esporte de Itapecuru Mirim e do Maranhão. Alfredo Menezes teve sua vida ceifada pela COVID em 27 de abril de 2020.



quinta-feira, 7 de março de 2024

HOMENAGEM A TODAS AS MULHERES

 



*Rosi Correa

        Com este poema quero cumprimentar todas as mulheres que estão sempre a batalhar por uma vida melhor e seu espaço conquistar.

        Mulheres vargem-grandense, Itapecuruense e maranhense, não importa o lugar. Vamos todas festejar. No dia 08 de março que é dedicado a nós com o objetivo de nos homenagear.

 

O ser mulher

O que falar sobre o ser mulher?

Ser mulher é cair para depois levantar;

Ser mulher é sorrir, mesmo querendo chorar;

Ser mulher é ser forte, mesmo quando fracassar;

Ser mulher é suportar a dor, quando a solidão te abraçar;

Ser mulher é sonhar, mesmo quando a desilusão chegar;

Ser mulher é colocar um sorriso no rosto e sempre recomeçar.

Ser mulher é cuidar de todos, mesmo sabendo que precisa se cuidar;

Não existe uma definição para o "SER MULHER", pois ela sempre será:

A guerreira do lar, a protetora dos filhos, um ser, sempre capaz de amar.

Assim, por mais que queiramos conceituar, nunca iremos encontrar,

 adjetivos suficientes para esse ser tão especial explicar.

 

 

 

   

 

 * Rosiane de Morais Corrêa, (Rosi Correa) natural de Vargem Grande-MA, professora e poeta. Membro da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes - AVLA.

 

 

quarta-feira, 6 de março de 2024

O DIA DA MULHER

   José Amadeu Barroso Oliveira

 

O texto é dedicado a todas as mulheres do mundo, em especial a mulher maranhense, em uma homenagem que lhes é prestada no mês de março. Qual é afinal o dia da mulher?

- Dia 8 de março, dia internacional da Mulher?

- Dia 11 de março, o dia da Mulher Maranhense?

- Dia 15 de março dia Mulher Itapecuruense?

Evidentemente que as datas são dedicadas às essas mulheres, nossas mulheres, com todas as honras e méritos que lhe são merecidos e têm uma motivação especial, para que esses dias fossem proclamados.        

Mas na verdade o dia da mulher é todo dia, conforme a música de Chico Buarque de Holanda, a primeira estrofe:

            Todo dia ela faz tudo sempre igual,

            Me sacode às seis horas da manhã, 

            Me sorrir um sorriso pontual

            E me beija com a boca de hortelã.

 

Minhas mulheres: Minha mãe, minhas irmãs, minha ex-mulher (que me deu cinco filhos), dentre os cinco filhos, duas mulheres, minha atual mulher, não temos filhos juntos, mas ela tem dois filhos.

Todas, seguiram o mesmo ritual da música do Chico. Fizeram ou fazem a mesma coisa todos os dias. Algumas trabalham, ou trabalharam fora, para ajudarem na manutenção da família, sem, contudo, deixarem os afazeres de casa de lado, ou sob a responsabilidade exclusiva da pessoa, que é, paga para fazer o serviço doméstico.

Hoje temos a honra, de vermos inúmeras mulheres nos mais altos escalões da vida pública e privada, mostrando que durante muitos anos, seus talentos, suas inteligências foram subestimadas e deixadas de lado, sob a desculpa de que as mulheres nasceram para serem mães (que com muito orgulho o são) e donas de casa, ou do lar (pra ficar mais bonitinho).

Não, as mulheres são os sustentáculos da nossa sociedade, pelas suas vivacidades, inteligência, esperteza e poder de decisão.

Parabéns as mulheres pelos seus dias e sobre tudo por serem mulheres, corajosas, exemplos de amor, espelho de Maria mãe de Jesus.

Viva a mulher: mãe, esposa, companheira, amiga, e por fim, viva o seu dia, de trabalho de repouso, de recreação, diversão, todos os dias.

 

José Amadeu Barroso Oliveira, natural de Vargem Grande (MA), musicista, poeta, compositor e membro da Academia Vargem Grandense de Letras e Artes-AVLA

 

 

 



CELEBRAR A MULHER

 Maria José Quaresma.


          É maravilhoso ver o destaque e reconhecimento que o mês da mulher traz para tantas
questões importantes. As mulheres merecem ser celebradas e admiradas não apenas no dia 8 de março (Dia Internacional da Mulher), em 11 de marco (Dia da Mulher Maranhense) ou 15 de março (Dia da Mulher Itapecuruense) estas devem ser homenageadas todos os dias.

          Mulheres ao redor do mundo enfrentam desafios diários e superam obstáculos com uma força inabalável. Suas histórias de coragem, resiliência e luta merecem ser contadas e exaltadas. No Brasil, vemos inúmeras mulheres brilhantes que se destacam em diversas áreas e que inspiram a todos.
          Essas guerreiras não são apenas mães e cuidadoras, mas também profissionais, líderes, artistas, cientistas, ativistas e muito mais. Elas equilibram múltiplos papéis na sociedade, enfrentando a desigualdade de gênero e desafiando estereótipos a cada passo.

É crucial reconhecer e apreciar o valor e as contribuições das mulheres em todas as esferas da vida. Devemos não apenas celebrar, mas também agir de forma concreta para promover a igualdade de gênero, garantir direitos iguais e criar um ambiente seguro e acolhedor para todas as mulheres.

Cada história de superação, cada conquista e cada ato de resistência merecem ser lembrados e compartilhados. Que possamos aprender com essas mulheres incríveis e trabalhar juntos para construir um mundo mais justo e inclusivo para todas.

É maravilhoso ver mensagens inspiradoras sobre a força e importância das mulheres, especialmente nestas datas tão significativas. As mulheres desempenham papel fundamental na sociedade e merecem todo o reconhecimento pelo seu trabalho incansável e contribuições inestimáveis.

      Que possamos continuar a honrar, respeitar e apoiar as
mulheres em todas as esferas da vida. Juntas, podemos realmente mudar o mundo para melhor.

Nina Rodrigues 05/03/2024

 


 

Maria José Quaresma, natural da cidade de Nina Rodrigues (MA), professora, cronista, poeta. Membro efetivo da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes – AVLA.

 

terça-feira, 5 de março de 2024

SER MULHER

Márcia Reis


 é uma maravilha

é viver tudo em apenas um momento 

é lutar por tudo e por todos e sempre vencer

é estar sempre à frente do tempo

é desconhecer a palavra não sei

é caminhar na certeza que tudo será resolvido 

é correr atrás do sol mesmo em dia nublado 

é deixar a tristeza sempre ir embora

é chorar de alegria 

é cancelar sonhos em prol do outro

é esperar na certeza que tudo dará certo 

é saber quando o sorriso é triste 

é chegar ao fundo do poço mas sair sem ajuda

é estar em mil lugares ao mesmo tempo

é fazer mil coisas e não se cansar

é ser frágil e fingir que é forte

é saber doar, estender a mão e amar sem nada pedir em troca

Ser MULHER é saber ser FELIZ



quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O POÇO DE JERICÓ

De que vale a boca aberta do poço

e água a transbordar pelas bordas

se o deserto cálido e o sol a pino

fermentam na estática fonte

o gosto salobro que afugenta o sedento

quem amaldiçoara a subterrânea reserva?

Quem tingira de maldição rios e campos?

 

Os filhos de Jericó morrem lentamente

órfãos e viúvas desemparados ao léu

a fome galopa o dorso de cada corpo

a sede cavalga o lombo de cada alma

e até o andarilho e sua moribunda sombra

não possuem um damasqueiro para a fronte

repousar, não possuem um poço para aplacar

a sequidão que clama por ser saciada

 

de que vale o sândalo do corpo em chamas

da musa cananeia com seu cântaro e flama

se não pode o aedo cortejar-lhe o encanto?

A cidade sucumbe sem leite e pão

e o povo abandona o lar em procissão

ao passarem pelo poço não podem aproximar

o cálice de sua secura para a sede saciar

e o destino tritura cada cananeu em sua mó

moendo sonhos e seres na infausta Jericó.



segunda-feira, 20 de novembro de 2023

 

A MECÂNICA DAS FÚRIAS

Existe lógica na maquinaria da força?

Os pósteros louvarão um herói brutal?

Fenecer como homem ou permanecer

na boca dos rapsodos como semideus

ter os feitos exaltados para além do agora

ter os feitos insculpidos nos anais da história

as finalidades são grandiosas, mas os meios?

Conseguirá com força bruta ou pura astúcia?

 

Aquiles empunha a espada, eleva o escudo

quer a imortalidade no canto dos aedos

um busto insculpido com mármore de Carrara

uma epopeia composta em sua memória

não possui a estratégia arguta de Odisseu

apenas a mecânica das fúrias em seu corpo

animando a insaciável sede de imortalidade

 

com armas forjadas na furna de Hefesto

não lutará pela glória helênica, mas somente

para talhar seu nome nos umbrais do Olimpo

e a serena razão interpela a apaixonada cólera

bastará a relojoaria iracunda das fúrias

a mecânica da força bruta a animar a ação?

 

Ou será necessário o engenho da astúcia

para que o herói não seja esquecimento

singrando ausências em mares de solidão

o nome tatuado apenas nos lábios do vento?



sexta-feira, 3 de novembro de 2023

AVERNO

Theotonio Fonseca


I

Que ourífico tesouro ou estercorário nada

habita a reentrância da desnuda calçada?

Pés que a tocaram, pranto que a osculara

sangue que clama da fresta do esquecimento

outrora derramado sob o bafo de gélido vento.


Quem decifrará cada linha tortuosa escrita  

nas páginas de cimento destas memórias

hermenêutica dos transeuntes na arena da vida

semântica do desenlace de humanas histórias.  


As vísceras putrefatas e o bico do corvo

carrancas da mesmíssima moeda

a sanha insana do sicário e o corpo

da vítima, funesto afã, infausta meta

paradoxos de humana expressão

miolo de rosas no útero de maligno pão.


assim caminha o humano caminhar

pés céleres de anjo a sustentar

a medonha forma de monstro inominável

adaga ébria de sangue, ventre aberto no pátio

auréola de morte sob asas de angelitude

Missa de Palestrina no grito gutural e rude

assim singra o barco bêbado a barlaventejar

oceanos ocos na desolada terra do nada

a iracunda ira na amorosa face do amar

voo do colibri roçando o cadáver na calçada.


II

Coruscantes raios colhiam pétalas de suor

ao rés do chão de defuntas estrelas

nos minutos sem sombra em sua mó

o moleiro moía dogmas e certezas


plurisofridas ninfas no plenilúnio

carpiam o derradeiro recital do alaúde

inebriantes chuvas de ácido semeavam

sépalas de palor no jardim incendiado

Babel era morta, Sião pálida paisagem.


Limiar de nascentes óvulos

sementes de ossos e óbolos 

obscuros espantos

cálice vazio de sangue

roçando íntimos antros

ante o menstruo arrebol exangue


escoadouro de esgotos e rios de tesouros

lux in tenebris, cadência de ínferos balafons

cozendo ecos na túnica de calões indigestos

cobrindo as peludas vergonhas de Babalon


boca de peçonha no dorso de degolados mochos.

Sonâmbulos bestiários pessoais

escarnece o cururu bojudo, e ri-se Satanás!


III

Chegamos ao fundo da côncava gruta

urna telúrica de primevos segredos

onde o pó dos crânios aduba doces frutas

e o sangue fertiliza flores de asco e medo

são ínferas regiões de ardentes chamas

rios de fétido lodo, jardins de esterco e lama

o óbolo só nos permitira aqui aportar

argonautas sem nau e remo, como regressar?


Sem zéfiro ou éolo como barlaventejar?

É tão infinito o oceano que circunda o inferno

quanto a parafina que já ardeu em um cemitério.

Sentemos neste litoral de esquecimento

como outrora às margens do babilônico rio

cantaram os cativos suas odes de lamento

entoemos nosso réquiem sob o bafejo do vento frio.




 

terça-feira, 31 de outubro de 2023

LOVECRAFT: A CRIAÇÃO DO TERROR CÓSMICO E A ASCENÇÃO DO TERROR PSICODÉLICO

Christian Fonseca

H.P. Lovecraft é reconhecido como o mestre do terror cósmico. Seu estilo único e perturbador de escrita estabeleceu as bases para um subgênero literário que ficou conhecido como "terror cósmico" ou "horror cósmico".

Lovecraft criou um universo fictício chamado "Mitos de Cthulhu", onde entidades cósmicas antigas e poderosas governam o cosmos. As entidades do universo deste aclamado autor, como Cthulhu, Nyarlathotep e Azathoth, estão além da compreensão humana, e sua mera existência é capaz de enlouquecer as mentes mais racionais.

Embora a os gêneros cósmico e psicodélico sejam distintos, eles compartilham elementos temáticos e estilísticos que se entrelaçam em certos contextos.

O terror cósmico de Lovecraft se baseia na ideia de que a humanidade é insignificante e impotente diante das forças do universo. Seus personagens são confrontados com a vastidão do cosmos e a descoberta de que a realidade é muito mais complexa e aterrorizante do que se pode imaginar.

Embora Lovecraft não tenha devotado sua escrita especificamente ao terror psicodélico, pode-se afirmar que alguns elementos de suas histórias estão ligados a esta dimensão estética. Seus contos apresentam descrições vívidas e alucinatórias de seres e paisagens cósmicas, evocando uma sensação de estranheza e maravilhamento.

Além disso, a experiência de seus personagens ao testemunhar a verdadeira natureza do universo muitas vezes é descrita como uma experiência de horror e êxtase, elementos que também são encontrados no terror psicodélico.

A conexão entre Lovecraft e o terror psicodélico é explorada por alguns escritores contemporâneos, que buscam combinar os temas e conceitos do terror cósmico com os elementos alucinatórios e psicodélicos.



sábado, 28 de outubro de 2023

HOMENAGENS À GONCALVES DIAS

       5 Poemas em homenagem ao bicentenário de Gonçalves Dias.

 

  *Theotonio Fonseca

 

Juracema dos Ventos

 

O sol a iluminava com a leveza do colibri

que oscula a flor. O peplo cróceo da alvorada

como véu que veste a fronte da musa amada

cobriu-lhe o desnudo corpo antes de partir

 

tão logo o argênteo dia partira, a noite surgira

e do oceano irromperam flâmulas de morticínio

famintos de ouro e sedentos de extermínio

adentraram o seio virginal das florestas

 

Tupã vendo o fim de seus filhos entre frestas

da divina visão sob a fumaça de vil pressago

dos arcabuzes a cravar pólvora no triste fado

em cada caravela escancarava-se uma janela

para a sangria que dizimaria os filhos da floresta

em cada ranhura do tempo a face de lamentos

a planger dos mil povos o desaparecimento

 

Juracema nadava entre vitórias-régias e iaras

quando ouvira o clangor dos primeiros estampidos

afugentando das árvores o azul das araras

ressoando dos curumins o lancinante gemido

 

Vendo-lhe a dolente lâmina a abrir sem pejo

a alma lacerada pela vergasta da dor infinda

Tupã aprouve de encantar a jovem tupinambá

na eólica forma de um vento benfazejo

 

e hoje quando nas aldeias uma menina

sente os lábios da aragem suas madeixar roçar

é Juracema dos Ventos que a parente abençoa

recordando que o ancestre uirapuru ainda ecoa

e em Pindorama este canto não haverá de calar.

 

O ancião e o tamoio

 

As cãs são as mesmas na neve que as define

o pranto é o mesmo no sal que lhes habita

e o sangue que singra-lhes o alquebrado corpo

tem o mesmo rubro eivado do divino sopro

 

mas o caminhar é distinto nas sendas da vida

o navegar é diverso nas águas do destino

o ancião vê passado, presente e futuro

como temporalidades divisíveis

o tamoio compreende a unidade do tempo

vida e morte como faces do mesmo dracma

corpo e alma como pergaminho unívoco

sem as ambiguidades do maniqueísmo

 

para além das semânticas individuais

do rol de crenças e da mó de certezas

os moleiros dos ciclos do existir

vão triturando impiedosamente a natureza

servindo fealdade em baixelas de antiga beleza

 

e o que unifica ancião e tamoio é a lápide

do porto onde todas as âncoras são fincadas

ilha sonâmbula onde sonhos exilados

gestam a putrefação entre o cipreste a áspide

 

é a morte, nada pode desdourar seu escuro

ou silenciar o sonoro címbalo de seu chamado

nada equaciona a lógica de seu absurdo

ou pode aterrissar seu pleno voo alado

 

e ao fim da navegação em derredor do existir

não existirão jardins além do bojador

apenas vermes a sacramentar o fim

entre raízes e ossos, areia, larvas e odor.

 

Flauta de taquara

 

Em Pindorama todo som emudecia

o maracá do pajé, da jaguatirica a cria

o estridor dos trovões, o rugido das feras

o crocitar do corvo e o sibilo de áspide velha

 

até mesmo a voz encantada da iara

silenciava diante da flauta de taquara.

Quem a executava? Ninguém o sabia.

Quem a manejava? Desconheciam.

 

Uns dizia ser Tupã em sua moradia

outros ser Pã na distante Hélade

a rústica flauta paralisava o toré do dia

e dilatava o quarup noturno de Hécate

 

Pachamama ao ouvir o instrumento

na alfombra do universo a fronte reclinava

a celeste música singrava mares de ventos

doce sinfonia que a criação embriagava.

Ainda hoje ninguém decifrara a autoria

da jubilosa flauta de ancestral magia.

 

Canoa de ossos à beira nau

 

Singrando rios de coagulado sangue

navegando a terra em transe e exangue

para desaguar em um golfo de lágrimas

no leme a sombra do Princípe Jacarandá

remando dores em busca de algum mar.

 

O que restara da queda do céu?

O que sobrara dos mil povos de Tupã?

Estrelas moribundas e astros ao léu

tingindo de luto o peplo cróceo da manhã

na proa fantasmática ressoa o grito do urutau

réquiem para a canoa de ossos à beira nau.

 

O discurso de sumé

 

Peregrinando o chão em busca de vestígios

do dilúvio que Tupã enviara à humana barca

indícios do heroísmo do nauta Tamandaré

e da canoa que abrigara nossos ancestrais

o Princípe Jacarandá achara Sumé a rezar

levitando sob uma touceira de mato

o santo descerrara as pálpebras e a falar

reuniram-se feras, áspides e bojudos sapos:

 

 – Queima a pele e os ossos da alma sofrida

ver os homens caminharem sem direção

como quem desconhece chegada e partida

e caminha em círculos à deriva na solidão.

 

Ensinei-os a lavrar o solo de Tupã

o cultivo da mandioca, da banana e do milho

a invocar a chuva nas tórridas manhãs

a cura dos curumins livrando da morte os filhos.

 

O que hoje vejo no triste chão de Pindorama

são florestas ardendo em incontrolável chama

são meus filhos a morrer como indigentes

e a peçonha colonial, veneno de vil serpente

inocula o fim do imenso jardim de Nhamandú

 

regressa ao lar antes da queda do firmamento

antes que se desdoure o que restou do azul

e à flauta de taquara compõe teu último lamento.

 


*THEOTONIO FONSECA DE SOUSA é Poeta, Professor e Advogado. Autor das obras: Poemas Itapecuruenses e Outros Poemas (Ética, 2014), O Batucajé das Iaras ( Ética, 2016), As Bodas de Sapequara ( Ponto a Ponto, 2021), Recital do Sol na Sagração da Aurora (Ponto a Ponto, 2022), Autobiografia de um Sabugueiro (Ponto a Ponto, 2022), Prelúdio da Lua na Dormição da Noite (Ponto a Ponto, 2022) e A Madona Vestida de Arame Farpado (Ponto a Ponto, 2023)